Brasil e Suécia estão cada vez mais próximos

Bengt Janér mantém estreita relação com a Suécia e com o Brasil. Sueco de nascença, ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. Depois de décadas de experiência como consultor para as indústrias suecas de material de defesa, acaba de ser nomeado diretor geral da Gripen no Brasil pela também sueca Saab, controladora da Gripen International. No escritório da empresas em Brasília, “Segurança & Defesa” ouviu esse sueco de coração brasileiro. Na entrevista, ele fala dos desafios que acaba de abraçar aos 50 anos de idade, das possibilidades de parcerias entre o governo brasileiro e a Saab-Gripen, e das novidades sobre a mais recente aposta da empresa: o caça de última geração Gripen NG.

 

S&D — Inicialmente, gostaríamos que falasse um pouco sobre a Saab, o Gripen e os planos para o Brasil.

BJ — A Saab tem 70 anos de experiência na área de defesa. É uma das cinco principais detentoras de tecnologia de caças supersônicos de última geração no mundo — no caso o Gripen, cuja empresa homônima é responsável pela comercialização da aeronave em todo o mundo. A Saab, que atua em todos os continentes, tem grande interesse em apresentar ao governo brasileiro uma proposta de parceria tecnológica de longo prazo e em diversas áreas. Além disso, vê o Brasil como natural parceiro tecnológico. Assim, temos condições e queremos colaborar com o governo brasileiro nos projetos de defesa.

S&DRecentemente, foi apresentado o Gripen Demo, na realidade um degrau intermediário para o Gripen NG. Quais os principais avanços e diferenciais dessas aeronaves?

BJ — O Gripen Demo foi apresentado no último dia 23 de abril numa cerimônia em Linköping, para quase mil pessoas, entre jornalistas de todo o planeta, além de convidados da Saab. Pouco mais de um mês depois, em 27 de maio, o protótipo do caça realizou o primeiro vôo. O Gripen Demo é uma plataforma para testes de soluções e sistemas do futuro Gripen NG, um projeto original, desenvolvido numa plataforma comprovada. O Gripen Demo incorpora novas capacidades e sistemas. O motor é o GE F414G, com maior empuxo, e o avião usa um radar de varredura eletrônica ativa (AESA). A capacidade interna de combustível é 40% maior, o que proporciona um incremento de cerca de 50% no alcance. O caça conta também com trem de pouso reposicionado, maior capacidade bélica, modernos sistemas de aviônicos, de comunicações e de guerra eletrônica, bem como um enlace de dados muito avançado. O Gripen Demo é o precursor de toda uma nova geração de tecnologias e recursos, garantindo que o Gripen NG permaneça na vanguarda em termos de capacidade e desempenho até muito além de 2040.

S&DE o que mais está previsto no programa do Gripen Demo, com aplicação direta no Gripen NG? 

BJ — O Gripen Demo testará e desenvolverá muitos sistemas e capacidades essenciais que serão aplicados ao Gripen NG. As tecnologias do AESA e de comunicações, e o desenvolvimento de armamentos e de guerra eletrônica, por exemplo, não permanecem inalteráveis, assim como os aviônicos. O enlace de comunicações de banda larga por satélite emprega atualmente um sistema comercial Iridium, mas somente para provar sua capacidade. Há ainda o novo sistema de alerta de aproximação de mísseis (MAWS). Um sistema mais avançado está sendo considerado para o Gripen NG, que será totalmente preparado para utilizar armamento de ponta, incluindo itens ainda em desenvolvimento pela indústria.

S&D E quanto à comercialização do Gripen NG?

BJ — O Gripen NG já está sendo comercializado pela Saab-Gripen, que está participando de concorrências na Noruega, Índia e Dinamarca. Diversos outros países têm solicitado informações sobre o Gripen NG. O Gripen C/D já foi adquirido pela Suécia, África do Sul, Hungria, República Tcheca e Tailândia.

S&DE como o Gripen se enquadra no Programa do F-X2?

BJ — Em meados de maio deste ano foi instituído o Grupo Gerencial do Projeto FX-2, o que significa que a Força Aérea Brasileira (FAB) deve retomá-lo a curto prazo. Acredito que pelo menos as condições serão reveladas ainda em 2008. A Saab está à disposição do governo brasileiro para oferecer, no momento que este achar oportuno, o que a empresa acredita ser a melhor solução para o projeto F-X2, o Gripen NG. Afirmo isso com a mais absoluta certeza, porque esse é o primeiro caça multi-missão de nova geração. O Gripen já em serviço utiliza a mais moderna tecnologia, é capaz de executar uma extensa gama de missões operacionais ar-ar e ar-superfície e emprega o mais moderno armamento. Além do mais, o projeto visa fazer frente às ameaças do presente e do futuro, sem deixar de atender às mais rigorosas exigências de segurança em vôo, confiabilidade, eficiência de treinamento e baixos custos operacionais.

S&DO Brasil terá condições econômicas de adquirir uma aeronave tão avançada?

BJ — O programa do Gripen NG é mais que o primeiro passo rumo a um novo Gripen; é também elemento propulsor do desenvolvimento de novas tecnologias para clientes atuais e futuros. Nós nos concentramos nas áreas estratégicas principais de capacidade e desempenho, o que inclui sensores da aeronave, sistemas de comunicações, capacidade bélica, sistemas de auto-proteção, alcance e desempenho do motor. Sou de opinião de que o Brasil tem plenas condições de adquirir o Gripen NG, que foi concebido para apresentar baixos custos de aquisição e de operação. Ao longo de uma vida operacional de cerca de 30 a 40 anos, a economia para o país será significativa. Com a introdução do Gripen NG, a Força Aérea terá economia não só de combustível, mas também na manutenção. A operação da aeronave é simples e diversos sistemas de monitoramento estão instalados internamente, o que facilita a detecção de possiveis problemas e panes. A necessidade de equipes de apoio no solo também é mínima. Esse fator é igualmente importante para a operação do Gripen fora de sua base. O deslocamento para outras bases de operação é feito com o mínimo impacto e necessidades de apoio. Outro ponto importante a ser ressaltado é sobre a indústria aeroespacial brasileira. Ela tem condições de, em parceria com a Saab, adequar a configuração do produto. A indústria pode e deve participar da introdução de novos sistemas e armamentos de interesse da FAB, além de adquirir tecnologias que virão a auxiliar no crescimento do setor aeroespacial brasileiro em um programa envolvendo o Gripen NG. •